quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Frida Kahlo - Autorretrato com Colar de Espinhos

O filósofo espanhol Miguel de Unamuno (1864 – 1936) afirmou que o sofrimento é parte essencial do que significa existir como humano. Para Unamuno, sofrer é uma experiência vital pela qual passamos. Nem todos os pintores dedicaram-se a expressar com sua arte essa constatação do filósofo. Provavelmente, a primitivista Frida Kahlo (1907 – 1954) está entre os que mais exploraram o tema.
O sofrimento foi companheiro constante da mexicana Kahlo. Vítima de um acidente de trânsito na adolescência que pontuou sua vida de dor, seu simbolismo pessoal é carregado de tristeza e, ao mesmo tempo, esperança - o sentimento que impulsiona nossa capacidade de superar as circunstâncias. Sangue, espinhos, alfinetes aparecem frequentemente ao lado de macacos - símbolo de impulso sexual nas culturas indígenas do México -, aves e flores. Os autorretratos mostram um espírito alquebrado pelo sofrimento, mas, ao mesmo tempo, altivo, ansioso pela beleza e pela vida, como Autorretrato com Colar de Espinhos, de 1940.
Apesar da limitação física e da dor, Kahlo celebrou sua vontade de viver com coragem e liberdade. Pintava para ela mesma, um exercício de autodescoberta repleto da forma e experiência femininas. Por isso mesmo, alguns de seus quadros são considerados surrealistas - algo que ela negava. “Nunca pintei sonhos”, disse ela. “Pinto a minha própria realidade”.
O fundador do Surrealismo, André Breton (1896 – 1966), definiu o trabalho da pintora como “uma fita ao redor de uma bomba”. Com efeito, a obra de Frida Kahlo é de uma beleza que fere.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Alfredo Volpi - Bandeirinhas Estruturadas (1970)

Alfredo Volpi (1896 – 1988) explorou cor e forma com método e dedicação, a ponto de desenvolver uma linguagem própria, um estilo que bordeja entre o figurativo e o abstrato, eliminando as fronteiras entre um e outro.
Nascido em Lucca, Itália, veio para o Brasil em 1898, aos dois anos de idade, onde desenvolveu sua obra. Volpi é um dos artistas mais importantes do Grupo Santa Helena, como o crítico Sergio Milliet batizou o grupo de pintores que frequentavam os ateliers de Francisco Rebolo e Mario Zanini, nos anos 1930, reunidos mais pela origem comum do que pelo comprometimento conceitual.
A partir da década de 1960, Volpi começou a elaborar composições onde figuram suas famosas bandeirinhas, elemento emprestado do folclore brasileiro. As bandeirinhas viriam a se tornar sua marca registrada. O padrão criado pela repetição da geometria das bandeirinhas e o incrível senso de combinação de cores, resultando numa composição incrivelmente equilibrada, colocam Volpi entre os maiores nomes da pintura brasileira do século passado. Bandeirinhas Estruturadas, dos anos 1970, um exemplar das muitas pinturas dessa série, este da coleção de Mauro Fortes de Moraes, sintetiza bem essa fase de Volpi.






domingo, 24 de fevereiro de 2013

Salvador Dalí - A Persistência da Memória

Mais que um construtor de imagens, o verdadeiro artista é um criador de símbolos - novos símbolos, arquétipos que virão a fazer parte do imaginário de uma civilização. Um dos maiores criadores de símbolos da História da Arte foi o catalão Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domenèche, primeiro marquês de Dalí de Pubol (1904 – 1989), mais conhecido como Salvador Dalí.
Excêntrico, visionário, artista multimídia, dono de uma imaginação sem fronteiras, criador de imagens chocantes e bizarras, Salvador Dalí é a personificação do Surrealismo - movimento artístico que busca explorar o papel do inconsciente no processo de criação, expressando visões despidas do controle da razão, da estética ou da moral. A onipotência do sonho, uma das marcas dos artistas surrealistas, permeia a obra de Dalí. Mas por mais surpreendentes que os temas de Dalí pareçam (outra característica da arte surrealista), seus trabalhos são imbuídos de beleza. De fato, ele criticava a arte moderna por promover a feiura generalizada e a hipervalorização da técnica.
Em A Persistência da Memória, seu quadro mais conhecido, pintado em 1931, Dalí derrete relógios numa ampla paisagem, criando um símbolo da relatividade do espaço e do tempo, desconstruindo a noção humana de ordem cósmica. No meio da composição, há uma figurara vagamente humana, uma evocação às imagens que surgem nos sonhos, as quais não conseguimos distinguir. Dalí usa essa figura também em outras obras como uma representação dele mesmo, o narrador que observa e ao mesmo tempo participa. Um dos relógios está coberto de formigas, símbolo que Dalí usava para representar a morte. Vanitas...



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Jacques-Louis David - A Morte de Marat



A obra de Jacques-Louis David (1748 – 1825) é impregnada de cunho político. Ativo apoiador da Revolução Francesa, conquistou a amizade da figura mais influente entre os revolucionários, Maximilien de Robespierre (1758 -1794), e dominou o círculo da arte na França Revolucionária. Preso depois da decapitação de Robespierre, associou-se, mais tarde, a Napoleão Bonaparte, tornando-se o pintor de sua corte. O acesso a essas ligações vantajosas era sua arte. De fato, Davi foi um pintor notável, o mais influente da pintura francesa no início do século XIX. 
Em A Morte de Marat, de 1793, David emprega simbolismo religioso para transformar num mártir o jornalista Jean-Paul Marat e líder da facção radical Montagnards e uma das vozes mais cáusticas da Revolução Francesa. A semelhança com Cristo martirizado é clara. Além da dramaticidade, o que caracteriza esse quadro é seu cunho essencialmente político. Isso levou um historiador da arte a afirmar que, por conta da temática, esse é o primeiro quadro modernista. Seja como for, modernista ou neoclássico (escola à qual David pertencia), essa é, sem dúvida, uma das imagens mais importantes da história da arte.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Edvard Munch - O Grito


O norueguês Edvard Munch não pintou retratos, paisagens ou outros temas. Munch pintou emoções. Famoso pelo tratamento intensamente evocativo de temas psicológicos e pelo simbolismo pessoal, Munch influenciou profundamente os expressionistas, em especial os alemães. Na verdade, seu quadro mais famoso, O Grito, pintado pela primeira vez em 1893 (ele repetiu o tema diversas vezes), pode ser visto como uma síntese do conceito de Expressionismo. Esse movimento artístico buscava apresentar o mundo a partir de uma perspectiva subjetiva, para expressar o sentido da experiência emocional em lugar da realidade física. Em O Grito, Munch anula a realidade física, distorce-a, transformando-a em ondas que emanam a partir do personagem, um ser vagamente humano, quase fantasmagórico, transformado pela emoção que o arrebata. O rio deixa de ser rio, a ponte, de ser ponte e o céu não é mais céu: tudo se transforma como uma miragem provocada pelo sentimento que domina o personagem. Provavelmente, nós vejamos nosso mundo individual dessa mesma forma: distorcido pelas nossas percepções subjetivas, pelas nossas emoções e sentimentos.






terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

William Blake - Hécate

Uma das figuras seminais do movimento romântico, o pintor e gravador William Blake (1757 – 1827) foi também poeta. Em um de seus textos ele afirma que “meu negócio é criar” - o que fez com uma imaginação selvagem, transbordando arquétipos e símbolos pessoais. Um contemporâneo de Blake disse a seu respeito que ele era “de longe o maior artista que a Grã-Bretanha já produziu”. De fato, há outros igualmente grandes, mas Blake certamente está entre eles. 
O místico Blake dizia ter visões, as quais influenciaram sua obra. Muitos de seus poemas são profecias e suas criações visuais, imbuídas do imaginário religioso. A forte expressividade é sua marca: as imagens que pintou são carregadas de drama, emoção e sensualidade. Pintado em 1795, Hécate¸ a deusa grega que enviava aos humanos os terrores noturnos, traz todos esses elementos.




segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Samson Flexor - As Bailarinas


O pintor romeno naturalizado brasileiro Samson Flexor (1907 – 1971) produziu obras tanto figurativas como abstratas. Expressionista, influenciando pelo cubismo, retratista excepcional, a marca registrada de Flexor é o emprego da geometria em seus quadros. No Brasil, onde se radicou depois da Segunda Guerra Mundial, passou a considerar que a pintura deveria expressar-se por si mesma e não ser mera cópia da natureza, abraçando a partir de então (mas não exclusivamente) a arte abstrata. Com isso em mente, em 1951 fundou o Atelier Abstração, o primeiro grupo de arte abstrata do Brasil. As Bailarinas, de 1950, sintetiza bem os elementos que sobressaem na obra de Flexor: geometria, cor e luz.





The Romanian born Brazilian painter Samson Flexor (1907 - 1971) produced both figurative and abstract works. An expressionist influenced by Cubism, an exceptional portraitist, Flexor's trademark is the use of geometry in his paintings. In Brazil, where he settled after the Second World War, Flexor began to consider that the painting should express itself by itself and not be a mere copy of nature. From this moment on he embraced (but not exclusively) abstract art. With this in mind, in 1951 he founded the Atelier Abstração (“Atelier Abstraction”), the first group of abstract art in Brazil. The Dancers, 1950, synthesizes the elements that stand out in Flexor’s work: geometry, color and light.



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Lucian Freud - Garota com um Cachorro Branco

Lucian Freud (1922 – 2011) foi um dos mais destacados retratistas do século passado. Nascido na Alemanha e naturalizado inglês, o pintor era neto de Sigmund Freud. Coincidência à parte -  ou talvez por isso mesmo -, as obras de Lucian são notórias pela profundidade psicológica que ele expõe -  a marca do verdadeiro retratista. Afinal, como cantaria Neil Young, “there’s more to the Picture/than meets the eye”. O uso de animais em quadros é uma de suas marcas registradas, como em Garota com um Cachorro Branco, pintado entre 1951 e 1952, no qual Freud retrata (ou melhor, revela) sua primeira esposa Kitty Garman quando estava grávida. Neste quadro, como em outros, Freud deixa transparecer que a existência humana é uma experiência solitária e espiritualmente dolorosa.


Mark Rothko - Tríptico Central Para a Capela Rothko


Os pintores abstratos andam na beira de um precipício, arriscando-se nos limites da sua arte. É um processo de desconstrução, onde o impacto da obra no espectador depende de fatores ainda mais subjetivos do que a pintura figurativa. Cor e forma antecedem o tema (na verdade, muitas vezes, sugerem o tema) e o quadro participa, de certo modo, da sua criação. Mark Rothko (1903 – 1970) foi um dos maiores pintores expressionistas abstratos americanos. A mim, o que mais chama atenção nos quadros de Rothko é a luminosidade, como o Tríptico Central Para a Capela Rothko, pintado em 1966.


William-AdolpheBouguereau - As Apanhadoras de Nozes


Quando se pensa na pintura francesa na segunda metade do século XIX, o Impressionismo vem à mente. No entanto, nessa época, quando os impressionistas tentavam afirmar sua arte, um dos maiores mestres da pintura europeia era William-Adolphe Bouguereau (1825 – 1905). Em As Apanhadoras de Nozes, pintado em 1882, Bouguereau celebra a pureza, a inocência e a beleza da infância por meio de luz e cor. A obra de Bouguereau é, de fato, uma celebração ao belo.


William Holman Hunt - Nossas Costas Inglesas


William Holman Hunt (1827 - 1910) foi um dos fundadores da fraternidade Pré-Rafaelita, que rejeitava a abordagem mecânica, artificial, que a arte assumira desde os imitadores de Rafael, os maneiristas. Os Pré-Rafaelitas foram os primeiros a pintar ao ar livre, buscando retratar a natureza e o natural. Com essa abordagem, abriram caminho para os impressionistas, décadas depois. Hunt era um mestre da luz. Em Nossas Costas Inglesas, pintado em 1852, é a tênue luz do entardecer que dá as cores e os tons do quadro.


Dora Carrington - Fazenda em Watendlath


Dora Carrington (1893 - 1932) dedicou sua vida a duas coisas: à pintura e ao escritor Lytton Strachey (1880 - 1932). O relacionamento de Carrington e Strachey era baseado apenas na admiração e amizade que nutriam um pelo outro - principalmente da parte de Dora -, pois Lytton era homossexual. Seu amor era tal que ela cometeu suicídio apos a morte de Lytton. Carrington, que pintava apenas para si, recusando-se a expor, produziu, principalmente, retratos e paisagens. A Fazenda em Watendlath, de 1921, remete à arte naïve e contém a leveza bucólica característica da obra de Carrington.


Hieronymos Bosch - O Jardim das Delícias Terrenas

Hieronymos Bosch (1450 - 1516) - O Jardim das Delícias Terrenas, pintado entre 1490 e 1516, antecede Salvador Dali e os surrealistas em centenas de anos. O lado esquerdo do tríptico retrata a criação; o painel central é o jardim das delícias; e o direito, o inferno. Impulsos humanos pintados nos momentos da criação, manutenção e destruição: homens e mulheres ante o ciclo inexorável.