quinta-feira, 4 de julho de 2013

Edward Hopper - Nighthawks

O americano Edward Hopper (1882 – 1967) é um dos maiores representantes da escola Neo-Realista, surgida durante a Primeira Guerra Mundial, cujos artistas buscavam explorar (e retratar) o espírito da sua época por meio das cores e formas da vida cotidiana. A obra de Hopper – sejam suas paisagens, aquarelas ou retratos – se destaca pelo domínio da luz e pelos temas sociais de suas pinturas. Com efeito, as pinturas de Hopper contêm sua visão da sociedade americana. Em Nighthawks, de 1942, Hopper congela o zeitgeist americano dos anos 1940. Uma das imagens mais famosas do século XX, a pintura mostra uma lanchonete 24 horas, onde três clientes e o empregado se encontram casualmente. A luz domina a cena, acendendo a noite através da vitrine de vidro. Nighthawks, com sua composição cuidadosamente construída em contraste com a quase ausência de narrativa, tornou-se um ícone da cultura americana. Simples e ao mesmo tempo sofisticada.


sábado, 22 de junho de 2013

Zinaida Serebriakova - Tingindo Canvas

Zinaida Serebriakova (1884 - 1967) buscou expressar com sua obra a beleza das pessoas e da natureza. Primeira mulher a se destacar na pintura russa, herdeira da escola Impressionista que flertou com o Expressionismo e o Simbolismo, grande paisagista e retratista, mestra no domínio da luz, Zinaida transborda sensibilidade, suavidade – feminilidade. Seus nus femininos estão entre os mais belos (e sensuais) do gênero. Aliás, como pintora da beleza que via, a imagem da mulher é tema frequente dos trabalhos dessa artista. Tingindo Canvas, de 1917, traz os principais elementos da arte de Zinaida Serebriakova. A imagem tem um espírito monumental, cheio de energia e movimento, celebrando a beleza e força das camponesas russas numa composição marcada pela harmonia das cores e linhas. Um poema visual à mulher de todos os tempos e lugares.



quinta-feira, 20 de junho de 2013

El Greco - Vista de Toledo

A influência de Leonardo, Michelangelo e Rafael foi tanta que, a partir do início do século XVI todos buscavam imitá-los. Eles tinham, de fato, estabelecido os parâmetros que guiariam a pintura a partir de então. O estilo criado pelos pintores que seguiam o roteiro desses três grandes mestres ficou conhecido como Maneirismo, isto é, à maneira de Leonardo, Michelangelo e Rafael. Os maneiristas, porém, buscavam ir além dos mestres. Por isso desenvolveram uma orientação onde prevalece a tensão na composição e o caráter um tanto artificial, em oposição ao naturalismo renascentista.
El Greco, o apelido de Doménikos Theotokópoulos (1541 – 1614), foi um dos maiores pintores maneiristas (embora muitos historiadores da arte o julguem tão único que não o enquadram em nenhuma escola). Nascido em Creta, treinado na Itália, El Greco foi reconhecido em Toledo, Espanha, onde se estabeleceu em 1577 e onde permaneceu até a morte. Seu estilo prenuncia o Expressionismo, com suas figuras alongadas, trêmulas, e uma pigmentação fantasmagórica ou fantástica. As cores reluzentes aumentam ainda mais a carga dramática de muitos de seus quadros. Desprezava as convenções de forma e proporção e acreditava que a graça é a busca suprema da arte. Vista de Toledo, pintado provavelmente entre 1596 e 1600, traz um dos melhores retratos de céu da arte ocidental. O forte contraste de cores (das nuvens contra as colinas) causa impacto no espectador e cria uma atmosfera de tensão e mistério. Além de todas estas e outras qualidades – as marcas do mestre –, Vista de Toledo também tem importância histórica: é a primeira paisagem pintada na arte espanhola.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

Piet Mondrian - Vista das Dunas com Praia e Molhes

O holandês Piet Mondrian (1872 - 1944) desenvolveu uma forma muito característica de pintura abstrata, influenciada pelo Neo-plasticismo. No final da carreira, chegou à essência dessa abstração, pintando os quadros aos quais sempre associamos o seu nome: sobre um pano branco, o pintor traçava uma grade com linhas verticais e horizontais em preto e nas três cores primárias. Foi, porém, um longo caminho até chegar ao estilo pelo qual Mondrian passou a ser lembrado. Um passo importante foi dado em 1917 quando ele se associou ao movimento artístico holandês De Stijl (O Estilo), fundado por Theo van Doesburg. O ideal do movimento, também chamado de Neo-plasticismo, é expressar um novo ideal utópico de harmonia e ordem espiritual. O modo de fazer isso é por meio do abstracionismo e da máxima redução da forma e da cor. Mondrian já vinha fazendo experiências nesse sentido.  Vista das Dunas com Praia e Molhes (1909), uma obra de estilo pós-impressionista, já se afasta do figurativo, indo às fronteiras da nãorepresentacão. Aqui, Mondrian abstrai as formais reais. Na época em que fez essa pintura, o pintor tinha se aproximado da teosofia e da antroposofia, o que o levou a ver a pintura como meio de adquirir conhecimento espiritual. Essa busca por iluminação por meio da pintura o levou a se aprofundar na exploração das formas abstratas.



Dutchman Piet Mondrian (1872 - 1944) developed a very characteristic form of abstract painting, influenced by Neo-plasticism. At the end of his career, he came to the essence of this form of abstract art painting the pictures which we always associate with his name: on a white background, the painter drew a grid with vertical and horizontal lines in black and the three primary colors. It was, however, a long way to get to the style for which Mondrian is now remembered. An important step was taken in 1917 when he joined the Dutch art movement De Stijl (The Style), founded by Theo van Doesburg. The ideal of the movement, also called Neo-plasticism, is to express a new utopian ideal of spiritual harmony and order. The way to do this is through the abstraction and the maximum reduction of shape and color. Mondrian was already experimenting in this direction. View from the Dunes with Beach and Piers (1909), a work in post-impressionist style, goes away from the figurative painting and reaches the borders of non-representation. Here, Mondrian abstracts the real forms. At the time that he did this painting, the Mondrian had approached theosophy and anthroposophy, which led him to see the painting as a means of acquiring spiritual knowledge. And this quest for enlightenment through painting led him to deepen the exploration of abstract forms.


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Rafael Zabaleta – O Sátiro

O espanhol Rafael Zabaleta (1907 – 1960) foi do Expressionismo ao Pós-cubismo, estilo que acabou por caracterizá-lo. Suas obras do período expressionista são bastante diferentes da fase pós-cubista, a qual durou os últimos dez anos da vida do pintor. Embora os quadros da fase expressionista de Zabaleta estejam entre os melhores dessa escola, foi com o Pós-cubismo que o pintor atingiu o ápice de sua arte. O Sátiro, de 1958, é uma das suas pinturas que mais se destacam da fase pós-cubista. As figuras são desconstruídas e reestruturadas de forma a mostrar todos os ângulos de uma vez – a proposta cubista. A influência de Picasso, a quem conheceu em Paris, é marcante. Mesmo o tema – um sátiro fazendo amor – foi emprestado da Suite Vollard, a bela coleção de gravuras de Picasso. Mas Zabaleta acrescenta algo mais, próprio, à experiência cubista. O Sátiro tem uma leveza característica, um contraponto de cores que marca o estilo do pintor, um ritmo dado pelas formas e pela composição que tornam Zabaleta um dos maiores artistas espanhóis do século XX.



Spaniard Rafael Zabaleta (1907 - 1960) went from the Expressionism to Post-Cubism, a school that eventually characterized his work. His paintings from the expressionist period are quite different from the ones of the post-Cubist phase, which lasted for the last ten years of the painter's life. Although the paintings of his Expressionist phase are among the best of this school, it was with the Post-Cubism that Zabaleta reached the peak of his art. The Satyr (1958) is one of his post-cubist paintings that stand out. The figures are deconstructed and restructured in order to show all angles at once - the Cubist proposal. The influence of Picasso, whom he met in Paris, is remarkable. Even the theme - a satyr making love - was borrowed from the Vollard Suite, a beautiful collection of etchings by Picasso. But Zabaleta adds something else to the cubist experience. The Satyr has a characteristic lightness, a counterpoint of colors that marks the style of the painter, a rhythm given by the forms and the composition that make Zabaleta one of the greatest Spanish artists of the twentieth century.

sábado, 25 de maio de 2013

Diego Velásquez – Vênus ao Espelho

Um dos primeiros artistas da escola barroca, Diego Velásquez (1599 – 1660) se destacou como retratista. Seu trabalho na corte do rei espanhol Felipe IV o catapultou à fama. Depois de ver um retrato seu pintado por Velásquez, hoje perdido, o rei sentenciou que nunca nenhum outro pintor o retrataria novamente. Com efeito, Velásquez veio a fazer quarenta retratos de Felipe IV. Além da família real, imortalizou anões e bufões da corte. Mestre da composição, dono de poderosa imaginação, Velásquez também transpôs para a tela épicos históricos e marcos culturais com uma forte carga dramática – algo bem característico do barroco. Como marca de seu gênio, abriu novos caminhos para novas gerações de pintores. Na terceira fase da sua carreira, adotou um modo de pintar que veio a ser chamado de “manera abreviada” que influenciou os impressionistas, especialmente Édouard Manet, e inspirou os modernistas, como Pablo Picasso e Salvador Dalí.
O tema central de Vênus ao Espelho, pintado entre 1647 e 1551, é, antes de tudo, a beleza. A composição do quadro é notável. As cortinas e os lençóis acompanham as lânguidas curvas do corpo de Vênus. De fato, o ritmo da pintura é dado pelas curvas da deusa.  As cores seguem, como que comandadas, o tom róseo da pele da Vênus. O rosto desfocado ao espelho, embora ao fundo, domina a cena. Através do espelho, Vênus contempla o espectador. Aqui, Velásquez não pinta uma deusa, mas uma mortal – na verdade, retrata a deusa em uma mortal. A luz brinca nas costas da modelo, evocando o aspecto divino que toda mulher traz em si. Singela em sua nudez, poderosa em sua beleza. Deusa.





One of the first artists of the Baroque school, Diego Velazquez (1599 - 1660) excelled as a portraitist. His work at the court of the Spanish king Felipe IV catapulted him to fame. After seeing his portrait painted by Velázquez, a work now lost, the king ruled that no other painter would ever  portray him again. Indeed, Velasquez came to paint forty portraits of Philip IV. Besides members of the royal family, he immortalized in paint some of the dwarfs and buffoons of the court. Master of composition, owner of a powerful imagination, Velásquez also transposed to the screen historical epics and cultural landmarks with a strong dramatic charge - something very characteristic of the Baroque. As a mark of his genius, he opened new avenues for new generations of painters. In the third phase of his career, he adopted a way of painting that came to be called "manera abreviada" (abbreviated manner) that influenced the Impressionists, especially Édouard Manet, and inspired Modernists such as Pablo Picasso and Salvador Dalí.
The central theme of the Rokeby Venus, painted between 1647 and 1551, is, above all, beauty. The composition of the painting is remarkable. The curtains and sheets follow the languid curves of the body of Venus. In fact, the rhythm of the painting is given by the curves of the goddess. The colors follow, as if commanded, the rosy shade of Venus’ skin. The blurred face in the mirror, although in the background, dominates the scene. Venus contemplates the viewer through the looking Glass. Here, Velasquez does not paint a goddess, but a mortal - in fact, depicts the goddess in every mortal women. The light plays on the back of the model, evoking the divine aspect that every woman carries within herself. Simple in her nakedness, powerful in her beauty. Goddess.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Juan Miró - Uma Gota de Orvalho Caindo da Asa de um Pássaro Desperta Rosália que Dormia à Sombra de uma Teia de Aranha

Joan Miró (1893 – 1983) afirmava que queria “assassinar a pintura” para, assim, estabelecer novos parâmetros visuais, reinventando essa arte. De fato, Miró deu outro sentido à pintura figurativa. Criou símbolos, evocou arquétipos, trouxe à tona imagens que habitam as profundezas do imaginário humano. Por isso, sua obra é associada à escola surrealista. O próprio André Breton, fundador do Surrealismo, admitiu que Miró era “o mais surrealista de todos nós”. Curiosamente, apesar de a arte de Miró vir do subconsciente (ou, até, mais profundamente, do inconsciente), ele não se associou ao movimento surrealista, pois queria liberdade para criar – e pertencer a uma escola limita, com efeito, os rompantes criativos.
Mas, sem dúvida, a arte de Miró pulsa a partir do inconsciente. Foi um dos primeiros a desenvolver o “desenho automático”, uma técnica usada por muitos pintores surrealistas (inclusive Dali) que busca dar vazão à expressão do subconsciente ao deixar a mão fazer traços aleatórios sobre a tela, fugindo do controle racional. Os riscos casuais formam imagens oníricas, primevas, onipresentes. O efeito é poderoso. Bom exemplo é Uma Gota de Orvalho Caindo da Asa de um Pássaro Desperta Rosália que Dormia à Sombra de uma Teia de Aranha, de 1939. O quadro pode ser o que o título implica ou o que o espectador quiser ver. Miró é mestre, de fato, em despertar diferentes olhares, visões diversas, em quem observa suas pinturas. Um ilusionista que, em vez de fumaça e espelhos, lança mão de luz e cor para fazer sua mágica.




Joan Miró (1893 - 1983) stated that he wanted to "assassinate painting" to thereby establish new visual parameters, reinventing this art. In fact, Miró gave another meaning to figurative painting. He created symbols, evoked archetypes, brought up images that inhabit the depths of the human imagination. Therefore, his work is associated with surrealism. André Breton, the founder of Surrealism, admitted that Miró was "the most Surrealist of us all." Interestingly, although the art of Miró come from the subconscious (or even deeper, from the unconscious), he did not join the Surrealist movement, because he wanted to be free to create - and to belong to a school does limit the creative outbursts .
But undoubtedly, the art of Miró pulses from the unconscious. He was one of the first artists to use and develop "automatic drawing", a technique used by many surrealist painters (including Dali) that seeks to give vent to the expression of the subconscious by letting the hand do random strokes on the canvas, fleeing the rational control. The lines form dreamlike, primal, ubiquitous figures. The effect is powerful. A good example is Dew Drop Falling from the Wing of a Bird Awakens Rosalie who slept in the Shadow of a Spider Web, from 1939. The work may be what the title implies or whatever the viewer wants to see. Miró is a master in awakening different points of view, different visions, in the one who observes his paintings. An illusionist who, instead of smoke and mirrors, makes use of light and color to do his magic.