sexta-feira, 22 de março de 2013

Caravaggio - A Decapitação de São João Batista

  Se a arte de Caravaggio pudesse ser definida numa palavra, ela provavelmente seria: brutal. Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 – 1610) combinou, nas imagens que compôs, uma visão realística do ser humano, tanto do ponto de vista físico como emocional, ao uso dramático da luz. O resultado é arrebatador. Caravaggio pinta homens e mulheres de verdade: não esconde nem a sujeira nem a beleza de seus corpos. Os temas violentos refletem a personalidade do pintor. Consagrado em Roma, seu temperamento volátil o levou a matar um homem num duelo. A partir de então, sua vida tornou-se uma fuga que o levou a Nápoles, Malta e Sicília, em busca de protetores com quem, depois de pouco tempo de convivência, rompia - e no caso dos Cavaleiros de Malta, de modo violento. Suas obras acabaram se tornando moeda de troca para a proteção e o perdão que esperava receber das autoridades. Uma moeda valiosa, com a qual ele comprou os poderosos para tentar escapar dos assassinos que o perseguiam e que, talvez (pois há controvérsias sobre o modo como Caravaggio morreu), tenham cumprido sua missão.
  A Decapitação de São João Batista, pintado em 1608 quando Caravaggio estava sob a proteção dos Cavaleiros de Malta, é considerada obra-prima desse pintor e um dos quadros mais importantes da arte ocidental. A pintura retrata o momento em que São Batista é sangrado, antes da decapitação. Ele já teve a jugular cortada e a espada que será usada para arrancar sua cabeça descansa ao lado. À esquerda, Salomé aguarda com uma bandeja a cabeça que lhe será dada. Ao seu lado, o contraponto: uma mulher, identificada como, possivelmente, a princesa Herodias, irmã do rei Herodes Agripa I, reage, chocada, ao absurdo que é a execução de um inocente. A tela reúne as principais características de Caravaggio: da técnica soberba deste que foi um dos iniciadores da pintura barroca, do jogo de luz e sombra, à violência que extrapola os limites tanto da emoção como da razão humanas. Com isso, Caravaggio nos dá um retrato da nossa própria alma: tão bela quanto violenta; tão reles quanto elevada... Brutal.



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